quarta-feira, 15 de julho de 2009

Segredos da Meditação (Kavannot)


Rabino Misha´El Yehudá


Antes de iniciar nossa “Hajra” sobre meditação, é necessário primeiro explicar o que é meditação.


O grande místico hebreu, rabino Avraham Yitzachak Kook (1865-1935), disse: “Mitzavá bli kavanná, Ke´guf bli neshamá – Mandamento sem kavanná é o mesmo que um corpo sem neshamá”.


A palavra hebraica “Kavanná” é derivada do termo “kivun”, e significa “Direção Interior” ou “Jornada Interior” que é muito semelhante ao termo arábico “Hajra” o qual usamos acima e que fora usado por Frank Herbert em sua obra máxima “Duna” cujo significado é “Jornada de busca”. Em árabe, significa imigração.


Trocando em palavras de forma que todos possam compreender, “kavanná” que é quase sempre traduzida para meditação, é uma “viagem de busca” pelos mundos interiores dentro das nossas almas, digo “almas” e não “alma”, porque todo ser humano possui uma “nefesh (alma animal), um “ruach (espírito) e uma “neshamá (alma divina)”, e quando se senta com a intenção de meditar, está na verdade, iniciando uma viagem interior pelas terras dentro de si mesmo.


Acerca desta viagem interior, a Torah nos conta sobre Abraão: “D´us disse a Abrão: “Anda de tua terra e da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que te mostrarei (Genesis 12:1)”.


No texto original hebraico D´us diz: “Lech lechá (Parta para ti)”. D´us estava comandando Abrão a iniciar uma Hajra, uma viagem interior para as terras dentro de si mesmo. Assim, o Zohar nos diz que, quando Abrão chegou a Canaan, D´us apareceu a ele, e lhe deu a néfesh (alma animal). Depois Abrão partiu para sul e então recebeu o ruach (espírito), e finalmente alcançou o grau mais elevado recebendo a neshamá (alma divina).


Todos estes graus somente podem ser atingidos quando, intencionalmente o iniciado inicia sua kavanná, sua hajra, buscando dentro de si mesmo as respostas que jamais poderiam ser encontradas no lado de fora.


A alma (neshamá) é atemporal, e nela está o conhecimento do passado, presente e do futuro. Qabalsitas, iniciados nos caminhos místicos na “Escola Séter – a antiga escola de mistérios”, não prevêem o futuro, mas, se lembram dele através da kavanná.


A meditação é a única ferramenta capaz de nos colocar em contato com os reinos dentro de nós mesmos, nos permitindo o conhecimento de todos os nossos aspectos, tanto positivos, como negativos, despertando, tornando vivido em nossas mentes todo o conhecimento arquivado em nossas almas.


Recentemente adquiri o livro “Em águas profundas” do cineasta americano David Lynch, que foi quem levou para o cinema o meu livro preferido “Duna”. David revela no livro como a meditação o ajudou em seus projetos e na direção de seus filmes, incluindo “Blue Velvet (Veludo Azul)” e “Twin Peaks”, e como o ajudou também a conhecer a si mesmo, e controlar e erradicar o seu pior inimigo: A ira.


Os iniciados no conhecimento da Qabalah, também usam outras ferramentas para ativar e intensificar estas “Hajras”, como o uso dos Tefilin (filactérios), e a contemplação em alquimias de letras hebraicas as quais os iniciados nos caminhos místicos na Escola Séter, chamam de “Otiót” com as quais é possível realizar milagres, e aqui entra a sabedoria.


A palavra “milagre” vem do hebreu “ness” e significa “escapar/fugir”, pois, quem deseja um milagre quer na verdade, fugir de uma situação que lhe provoca intensa dor. O termo “ness” também é a raiz de “Nessoá (viajar)”.


Acerca disto está escondido na Torah sobre o maior milagre já realizado no universo: A abertura do “Mar Vermelho (Iam Suf)”.


“E disse o Eterno a Moisés: Por que clamas a mim? Fala aos “B´ney Yisra´El” que marchem (Êxodo 14:15)”.


No texto original hebraico D´us diz “Veissaú” que literalmente significa “iniciem a viagem” ou “pulem dentro do mar”. Devo deixar claro aqui, que nós, seres humanos somos constituídos de 70% água, um verdadeiro “mar interno”.


Em seguida a este comando, D´us ainda ordena a Moisés: “E tu, eleva o teu cajado e estende a tua mão sobre o mar e fende-o... (Êxodo 14:16)”. Segredo aqui reside no “cajado (hebraico Matê)”.


Na Torah D´us diz: “E este cajado pegarás com a tua mão, com o qual hás de fazer os sinais (hebraico Otót)”. Já foi explicado acima sobre o termo “otiót (letras)” as quais usamos para realizar milagres através das nossas “kavann-ót (plural de kavanná)”. O termo “Ót (letra)” funde-se aqui com o termo “Kivunn” formando o plural “kavannót” e ganhando o significado “viagem intencional pela letra”.


Sobre o cajado que foi dado a Moisés, o Zohar sagrado nos conta, que ele estava todo gravado com as “otiót” do Nome Santo que irradiava luzes em 42 cores direfentes, e aqui, aprendemos sobre o segredo do Nome de D´us de 42 Letras (Ana Bekoach) com o qual os iniciados realizam suas kavannót e seus “nissim (milagres)”, e entenda “nissim” como “escapadas”. Ainda sobre o cajado, o Zohar nos conta que ele foi criado no crepúsculo do sexto dia da criação.


Em 2006, 5766 no luach hebreu, eu iniciei a criação e gravação de músicas me utilizando deste profundo conhecimento, que resultou no CD “Caminhos Místicos (não lançado por gravadora)”. Iniciei uma “hajra” pelos “multiversos” na minha neshamá até o futuro, e ouvi canções as quais eu mesmo comporia no futuro, trazendo-as para o presente ano (2006) e gravando cada instrumento que ouvi. O resultado sempre provocava uma intensa alegria e elevação espiritual.


Estas são minhas palavras sobre “meditação”, que espero, ajude aos leitores compreender sobre este segredo místico e aplicá-lo em suas vidas.


“Mitzavá bli kavanná, ke´guf bli neshamá (Uma boa ação sem kavanná, é o mesmo que um corpo sem alma)”

(Rabbi Avraham Yitzchak Kook)”.


O rabbi Misha´El Yehudá é o fundador e presidente da “Associação Cabalista Mundial – Gará Kulam Moshav”, e o redescobridor dos antigos ensinamentos da “Escola Séter – A Antiga Escola de Mistérios dos Iorei Edey Há-Merkavá (Os descidos da Carrugem Diniva)”. Nascido Paulo Sergio no ano de 1966 no bairro de Beith-Lechem (Belém) em SP, judeu marrano (descendente de B´ney anussim), circuncidado no “Hilulá (aniversário de ocultamento)” do grande Qabalista do século 16 conhecido como “Ha-Ari (Rabino Yitzchak Lúria)”. Qabalista, iniciou seu caminho pela Sabedoria da Torah, ao receber a visita em seus sonhos de um rabino falecido em 1955, que lhe revelou profundos segredos escondidos na Torah de D´us.