sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Arazá d´Segulá


Trecho do Livro "Crônicas de Qédem" do Escritor Misha´El Yehudá Ben Yisra´El. À venda: www.biblioteca24x7.com.br





Uma “Menorá” de sete lâmpadas suspensas que repousava sobre uma pedra de Pítida cortada na forma de um retângulo, inundaria em breve com suas luzes, o ambiente preparado intencionalmente antes do por do sol ocre, conferindo ao lugar uma atmosfera mística e sagrada onde logo o antigo ritual do “Araza d´Segulá – O Mistério das Três Colunas” seria realizado. Das sete lâmpadas, apenas três seriam acesas seguidas de orações recitadas em shab´ta. Estava colocada à frente de uma cavidade em arco feita na parede leste. Era o sexto dia da shavuá e o logo o brilho de Chaiim iluminaria todos os planetas do sistema Qadmon divinamente alinhados, assinalando, como fora escrito nos antigos pergaminhos-filme: “No érev “D´Arazá d´Segulá” uma estrela magnificamente brilhante se elevará ao Norte, rodeada de outras setenta estrelas”. Isto fora escrito acerca de Chaiim – A Estrela da Vida, e os setenta mundos do sistema.

A qüinquagésima lua, chamada desde os tempos incontáveis de “O Coração de Atiká” já mostrava sua iluminada face sinalizando a abertura do qüinquagésimo portal, nomeado de “Sha´ar Ha-Chochmá – O Portão da Sabedoria”. Em todos os lares dos Sekudot e mesmo dos “Guerim – Os Estrangeiros” os que vieram de outros mundos e estabeleceram residência em Aur o qual chamam de “Kulam Moshav (Morada de Todos)”, antigos pergaminhos seriam abertos, e ao repouso da vigésima milésima sexta micro pedra de todas as sha´onim, o estudo dos mistérios do universo seria aberto pela recitação do “Qiriat Arba” pelos lábios de todos os iniciados.

- Sham Ayin Iashar El Atiká Elohainu Atiká Echad – recitou Ayyub enquanto mantinha-se em pé na cabeceira da longa mesa juntamente com sua família e os demais Sekudot moradores daquela residência escolhida por ele para a celebração do ritual.

- Venha minha princesa – chamou o patriarca. – Acenda as três lâmpadas principais no segredo do “Arazá d´Segulá” – pediu-lhe enquanto apontava com a mão direita para a Menorá Sagrada. Aliya caminhou e colocou-se à frente do místico candelabro. À sua esquerda, uma janela dava visão aos místicos e poderosos Zifqim – Os Pilares de Fogo. Ela elevou as mãos e juntou-as palma com palma. Fechou os olhos ocultando o eclipse de prata em suas pupilas, adquirindo kavanná enquanto recitava suavemente uma oração no idioma de Éber.

- Beruch atá Atiká ve´Qadishá, mélech iaqum, asher qadishánu be´mitzvá ve´tzivánu, le´hadliq nerot Arazá d´Segulá.

- Bendito sejas Tú oh! Antigo e Santo, Rei do universo, que nos santifica com a ordenança e nos comanda acender as lâmpadas do Mistério das Três Colunas – traduziu Ayyub, ao que todos os presentes responderam.

- Ha-Am d´Arazá d´Segulá anachnu. Ve´Ner Qadishá Atá Ribinô Shel Al Olamot. Ner Tamid tzaf be´iaqum be´iamei olam.

- O Povo do Mistério das Três Colunas somos nós. E a Lâmpada Sagrada és Tu, Mestre de todos os mundos. Lâmpada Eterna suspensa no universo desde os dias antigos – An-Nur traduziu.

Saviv abriu os olhos que brilhavam como duas lâmpadas suspensas. Todos os presentes ergueram as mãos abrindo os dedos em “V” no antigo segredo dos Ethanim. Suas unhas começaram a irradiar o característico brilho azul, e então Ayyub recitou.

- E disse D´us: “Sejam luzeiros na expansão dos céus, para separar entre dia e entre noite, e sejam por sinais...”.

Aliya separou as mãos e levou-as até a Menorá e ao aproximá-las do candelabro, as lâmpadas suspensas instaladas sobre ele acenderam-se mágicamente.

- Beruch atá Atiká Qadishá, borê meorê há- esh (Bendito sejas Tu, oh Ancião Sagrado, que criastes o fogo) – recitaram todos os presentes.

- I’vârekhâh b’khôl tôv,

V’ishmôr hhâh mi’kol râ’h,

V’yâair livkhâh bsêkhel chayyim,

V’yachônekhâh b’daáth olamin,

V’isha phnêy chasadav I’khaâh,

Lishlôm olâmim.

Recitou An-Nur a antiga “Benção do Fogo Resplandecente. Ao que os participantes da mesa responderam à meia voz:

- Te abençoe Ele com todo o bem.

E te guarde de todo o mal. Esclareça Ele o teu coração com sabedoria imortal.

E te contemple com eterno conhecimento.

Que Ele eleve o seu rosto misericordioso e te dê paz eterna.

An-Nur flutuava sobre suas chamas tendo as mãos viradas para cima e em forma de concha, onde as flamas brancas de seu fogo mantinham-se acesas como dois “amudim vovim” que surgem espontaneamente no deserto.

Ábda[1], a matriarca da casa, entrou vindo de um aposento adjacente à direita, trazendo uma badeja de kessaf sobre a qual repousavam duas “Chalót – Os Pães Trançados”, e colocou-a sobre a mesa.

- Abd´El[2] – chamou ela. – Traga o guéfen que preparamos esta tarde – comandou. Um jovem de cerca de treze shanót adentrou o ambiente, trazendo nas mãos outra bandeja também de kessaf, onde um cântaro feito de cerâmica possuía como conteúdo, o místico vinho extraído especialmente da “Anaf shel Anavim – O Ramo de Uvas” para o ritual.

- Muito bem meu filho – disse Abidá[3], o patriarca da casa, enquanto levava a mão direita para acariciar a cabeça do jovem iniciado, o único filho do casal.

Lâmpadas feitas de shêmen e essência de Qnamon, instaladas em pequenas cavidades junto as paredes, impregnavam o ar da casa do maravilhoso aroma de canela, proporcionando a elevação das mentes para o estudo que logo teria inicio.


[1] Literalmente “A que serve”.

[2] Servo do El

[3] Literalmente “Pai do Conhecimento” – Av-Yodêa.